5/05/2006

Minha primeira sessão

Meu primeiro Daime
Relato de um curioso, com todo o respeito...

Sábado, dia primeiro de outubro. Já passavam das 15:30 quando chegou o último componente. Numa roda de psicoterapia, alguns contaram coisas particulares. Começa a cerimônia cada um tomando o seu copo, começando pelo pessoal da roda. Nesse estavam o coordenador, o que servia o chá, e outros que cantariam com seus violões os hinos da cerimônia.
Fui o último, depois que todos tomarem o seu. Fui lá pegar o meu copo. Tomei. Achei muito a quantia, mas como não tinha idéia do que era... tomei. Antes de engolir, fiz uma pequena prece, e bebi aquele negócio amargo. Uma mistura de cerveja, como guaraná, vinagre... sei lá.

-------- bom, ia fazer em formato de relato, pelo qual creio ser mais livre e contar as coisas com um certo humor, que prefiro, ao lidar com essas coisas, para não cair em coisas místicas demais e mesmo dogmáticas. Um humor permite uma certa liberdade dessas coisas, que entendo, podem atrapalhar uma busca. Mas não tenho tempo agora, e se não fizer logo essas anotações, corro o risco de esquecer muitas coisas, então vai do jeito que me lembro das coisas. As coisas abaixo não estão exatamente na ordem em que aconteceram, mas muito próximo de uma ordem cronológica, o que é bem difícil, talvez impossível. Gostaria de desenhar tudo que vi. Não sei se vou conseguir, mas vou tentar um dia ---------

- o corpo com um mal estar. Suspirando com sono, mas sem sono. Não nego que por mim, naquele momento dormiria e bem. Isso no início. Então me acostumo com essa letargia e as coisas começam a acontecer. Meu corpo está se adaptando a não sei o quê.

- Vejo índios em fileiras entrando num mato. Uma pena vermelha aparece flutuando. Essa pena indica que começo a ter visões, que o fato de ver índios não me diz nada. Até porque foi um flash, como uma fotografia, então nem dei muita bola. Mas percebo que algo estranho começa a acontecer. Começo a ver imagens sem muita nitidez. Com mais atenção percebo que estamos numa grande Oca, ao menos foi o que entendi, porque nunca entrei numa. E era MUITO grande.

- Nesse instante, fico brabo com meu guia, que nunca apareceu para mim, se é que ele e essas coisas existem. Pelo menos nitidamente ele nunca apareceu. Invoco ele: - Como é que é o Guia, vai aparecer hoje ou não vai!

- Começo a executar uns mantras na testa para abrir a visão... nem precisei muito. Pensei, pô é um momento de ele aparecer e vai ficar se escondendo de novo. Quero saber como é você!

- Percebo agora que estou com todos sentidos sensíveis, o que posso chamar de um estado de meditação bem próximo dos melhores que já tive....oba... é hoje.... e outra, é bem, mas bem estável a condição em que me encontro. Um estado medidativo sem ser para lá de ZEN, muito pelo contrário. Um estado de percepção aguçadíssimo.

- Uma coisa que parece ser uma grande árvore aparece. Dela sai dois serezinhos que ficam brincando nos meus pés. Não sei o que eram. Pareciam desajeitados pequenos tronquitos de árvores. Caminhavam picando, bem desajeitados. Subiram pelas minhas pernas. O que eles queriam ali, não entendi. De repente sumiram. As imagens ficam cada vez mais claras. Já deixaram a tempo de ser “fotografias” e passaram a ser filmes as minhas percepções.

- Um ser de forma humana aparece na porta ao meu lado parado. Ele era alto. Sua “cor/fisionomia/delineação" era de um tom claro.

- Bom, a visão começa a clarear mais e mais agora . “Abro os olhos” e tomo um susto. Uma tromba passeia na minha frente. Passeava por todo o salão. Fica do meu lado e para. Olho para a ponta dessa tromba/língua e vejo duas flores vermelha na ponta. Fiz que fui pegar a flor até para dizer aquela coisa com vida que eu estava vendo ela, ou seja, quis brincar... olha tô te vendo, que legal. Até então, eu estava calmo.

- Um ser voando aparece na floresta com uma capa preta e dourada. Minha intuição me diz ser uma energia feminina.

- Olho para frente. Um negócio está me “olhando”. Não tem forma exata. Parece um objeto, como se eu estivesse de frente para uma cobra naja. Mas não é uma cobra, é alguma coisa que tem vida, se mexe e não é mal. É como se ela me cutucasse. Alô, tem alguém aí? Eu percebo ela e ela me percebe. Essa coisa parecendo um grande galho de babosa (até então não tinha associado isso há uma “galho de babosa”), quando vista de lado, pois aparecia aquelas barbatanas espinhentas, me fura no peito na altura do meio para extremidade esquerda e começa a sair um fluído preto. Me assusto com isso, e digo para esse ser estranho que fique do meu lado.... bem quietinho. Ele fica, a cerimônia inteira, do meu lado direto, atrás de mim.

- Uma outra criatura árvore para a minha frente. Os movimentos dessas criaturas são todos muito lentos. Parece um bicho preguiça, bem devagar. Talvez para não assustar. Pois, esse bicho árvore aí, tem uma bola do tamanho de um ovo de avestruz. O ovo vem subindo na minha frente. Algo me intui para fica com a coluna ereta. O ovo, vejo que é feito de uma luz, não muito brilhante, uma luz opaca. O ovo sobe devagar, mas não através de uma mão, sei lá pelo quê. Vai subindo, subindo, quando chega na minha testa fica tudo claro, perco a visão... como se acendesse um farol na minha testa...sobe mais um pouco e saio fora do corpo por uns momentos. E vejo um monte de coisas mais estranhas ainda.... a babosa por exemplo, tem um fluxo de luz em seu interior...imaginem a Freeway em pleno feriadão ou verão. Era um fluxo de luz em seu interior num velocidade incrível. Isso tinha descido do alto, também a minha esquerda.

- Abro os olhos físicos e olho para os outros da sala, porque tinha muita luz forte quando estava com os olhos fechados, que depois é que me dou conta, pois então abro os olhos para ver se não estou viajando na maionese com tanta luz naquela sala. Mas para minha decepção, a luz física ambiente era bem fraca. Estávamos numa penumbra.

- No alto à esquerda, uma coisa assustadora entra e fica planando ao alto. Parece uma lula gingante. Mas olhando bem é um ser flor. Uma bromélia MUITO grande, que se mexe. Ela vem para o meio da sala e fica sobrevoando o povo, num velocidade bem lenta.

- Nesse momento, a música de São Jorge começa a ser cantada. Uma clone de luz começa a girar no meio do pessoal que gira numa velocidade incrível. Esse clone, ou corredor luz, cai do céu como um raio. Ele é bem grosso. Um monte de cores, me lembro de rosa e verde claro, estão juntos nesse cone. E tudo começa a brilhar o salão fica claro como o sol.

- Não me lembro se antes ou depois dessa música de São Jorge, mas também uma música que falava de limpeza, vi uma floresta de pinheiros iluminada suavemente por uma luz verde claro. As árvores tinhas os seus galhos superiores podados. Essas árvores começaram a girar devagarzinho e soltavam um jato branco que pareceu serem perfumados. Elas, as árvores, giravam para cima. Não estavam fixa no solo. De repente eu me projetei lá no meio delas, como numa dança....aí....

- Cai a fichinha, Santo Daime, floresta, plantas....ah ta, essas criaturas estranhas que perambulam pela sala são plantas com vida.

- Ah, então não são seres do mal, será... não sinto nada mal. Tenho medo, confesso. São criaturas bem estranhas. Bom, acho que faço as pazes comigo e com isso que to vendo e as coisas começam a mudar.

- Aparecem outras plantas estranhas. Uma fica me cutucando o tempo inteiro, ao meu lado direito. Ela não para de se mexer. Sua cor é de um marrom, mais ou menos um metro e meio. Ela era um pouco mais rápidinha que as outras, mas só um pouco.

- Aceito as plantas, então, a partir desse momento minha percepção muda. Acho que entro numa outra sintonia com tudo. Algo mais sutil começo a perceber. É como se eu entrasse agora num outro mundo. A sala parece ter algo que se multiplica... tipo aquele mercúrio que é usado em termômetro. A sala parece que está toda grudada com uma “coisa” que muda de formato. Primeiro era de um tecido, areia, sei lá. Da cor dourada, um dourada que não ofusca. Tipo ouro que não foi polido. Depois as coisas possuem um contorno, brilhante, como aquelas coisas de néon que a gente compra em shows. E tudo isso é maleável...s mexe. O que eu mexo mexe também lá... está tudo interligado. Um outra forma que de repente tudo se transforma é em pequenos quadradinhos furados. Sei lá, me parece aqueles corais de fundo do mar. A cor também é de um amarelo ouro. Tudo vivo. Em resumo é como se eu estivesse num fluído que qualquer movimento interfere em tudo. Não é nada desagradável.

- Aê cantam a música de iemanjá e tudo fica preto de repente. Lá no fundo surge uma luzinha, que numa velocidade bem rápida vem voando na escuridão. Quando chega perto de onde eu estava, ou pelo menos o que vejo, estou em alto mar com ondas, mas num mar calmo. Essa luz que viaja ilumina tudo o que aparece. É incrível. Sobre essa luz parecia haver uma espécie de manto, sei lá, não ficou muito claro, porque brilhava muito. Antes de isso aparecer, aparece dois olhos de peixe. Parados, não vejo vida nesse peixe.

- Quando a música evocou o vento, bom, acho que o vento me levou porque me entreguei ao vento e virei vento. E que sensação doida. O vento é um monte de partículas que viajam numa velocidade louca. Começo a andar pela sala. Nesse momento me entregava de novo a essa coisa, que não era nem vento nem água, já era algo diferente.

- Algodões passeavam pelos presentes, nas cores rosa, verdinho.... são coisas já de um outro plano, que não esses das plantas. E isso ocorre durante todo o cerimonial.

- Num momento da sessão, quase no fim. A sala fica toda rosa, de um rosa gostoso.
- Haviam umas plantas felizes. Um tipo de cactos usados como ornamentos, também no final, ficava se mexendo mais rapidinho. Pareciam celebrar algo... estavam felizes.

- Num momento, também no final, próximo a mim. Uma parede de grama, como se fosse uma casa, uma janela de madeira e grama apareceu perto de mim.

- Bem no final, parece que tudo se transformou numa grande festa. Uma flor, ou sei lá o que é isso, girava na velocidade do bixo preguiça, como num carrossel, subindo bem lentamente. Enquanto ela subia, a sensação era de que o mundo estava em festa. Havia muita vida, muita alegria. As formas mais estranhas e belas também celebravam.

- EM outro momento, apareceu um monte de balão flutuante. Parecia um povo de balões, que também flutuavam numa velocidade diferente. Tudo mais lento. Eles passaram sobre todos os presentes.

- Antes de iniciar a sessão, não tinha tomado nada ainda, a única coisa que vi e que permaneceu até começar o cerimonial era algo dourada com fundo azul. Não sei o que era. Parecia um candelabro parado lá no que parecia ser um céu bíblico.

- As sensações físicas durante todo o ritual ficaram muito aguçadas. A audição principalmente. Num momento o som dos violões pareciam que saiam do meu umbigo. Meu umbigo se agitava quando me concentrava no som do violão, como se fossem as próprias cordas. Em alguns momentos tive uma tremedeira estranha, mas que logo voltava ao normal Meus braços, logo no início ficaram dormentes nas extremidades. Notei que se “voltasse para o corpo” ficava com frio e com náusea, o que era desagradável. Então saía fora, ia para o outro lado, não haviam nenhum mal estar em estar do lado de lá e tinha um mundo acontecendo nesse “outro estado”. A sensação é de estar coabitando em dois mundos. O chá, com todo o respeito que merece, parece que faz isso, te expulsa do corpo. Quando pensava que ia voltar ao normal já que o efeito é bem prolongado, eu saia da casinha de novo. Quando deixava a coluna ereta, era como se eu encaixasse e logo ia para um estado bem “doido”. O fato de sempre estar bocejando é como em meditações, quando começo a mexer com energias. Não cheguei a vomitar, mas se ficasse em dúvidas quando a ficar do lado de cá ou de lá, isso em si já causava um enjôo. Então decidi ficar do lado de lá. Quando tudo acabou, ainda grog, o fato de voltar a normalidade me trazia náusea. Mas acho que soube dosar o de cá com o de lá, porque no fim não vomitei nada.

Bom, pós cerimônia que durou umas 4 horas. Fui dormir. Acordei às 4:20 bem disposto. Não precisava dormir mais. Levando em conta que fui dormir às 01:00, dormi pouco e bem. Acabei dormindo mais. O encontro começou às 15:30, o ritual acabou perto das 21:30, mas saímos da casa perto das 23:00. Então, no total, foram 7 horas e meia... mas eu fiquei bem chapado, mesmo depois das 4:20 AM ainda sentia os efeitos do chá.

Não tinha fome até ao meio-dia de domingo. Se eu não comesse estaria tudo bem. E olho que sou comilão.
À noite de domingo, às 20:45 aproximadamente, entrei na burracheira de novo. Burracheira é esse estado de percepção diferente das coisas. Esse estado de consciência alterado é bem gostoso. Fui dormir e acordei às 0:44 e notei que tinha passado o estado de grog.

Agora, nesse exato momento em que escrevo ainda não estou normal, mas está tudo bem. É gostoso estar assim. Fora esse lado de visões, e outras coisas, caíram algumas fichas bem importantes.

O fato de ser alucinógeno, põe em dúvida se tudo o que vi realmente vi ou são criações minhas. Levando em consideração que já tenho um certo discernimento por causa de anos de prática em meditação, de que nunca tinha visto seres como estes, mas já vi outros, e muito menos a respeito de "tipos de visões" que se tratam em cerimônia do Daime na questão prática, creio que não eram alucinações ou algo do gênero. Todavia, não custa nada manter os pés no chão.

Te mais pessoal....

Fábio Carvalho, 3 de outubro de 2005

4 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Fábio que relatos hein!
Li quase tudo!!

Quero bater um papo sério contigo mano Fábio!

Um beijão e até a próxima!

Shana

sexta-feira, maio 12, 2006  
Blogger Josué said...

Fabioroc, Sou de são Leopoldo e gostaria de informações sobre Umbandaime no Rio grande do Sul por favor se possivel contateme.

Josuepassos@gmail.com

terça-feira, março 23, 2010  
Blogger Tatiana R. de Souza said...

Cara, eu vi muita coisa das que vc viu, me add no face pra a gente bater um papo! rsrs
www.facebook.com/tatinews

quinta-feira, julho 11, 2013  
Blogger Irene Genecco said...

Fabio, quanta coisa tu viste, tudo relacionado com a nstureza! Eu tomei 4 ou 5 vezes, e todas eu pasdo mal, vomito muito e me sinto muito mal. Mas não vejo seres. Ouço vozes, é mais como uma viagem pra dentro de mim mesma. Muita reflexão, filosifia. Muitas coees vivas, formas geometricas3e sensações aflitivas. É como se o tempo todo eu estivesse me esvaindo e morrendo. É uma luta que travo comigo mesmo pra não me consumir. Muitas questões, muito nu tudo, caem todas as máscaras. Enfim, não sei se vou tomar de novo.

sábado, abril 18, 2020  

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